Sejam bem vindos ao espaço da tranca pra k.

Caros visitantes convido-os a comentar as postagens
e estabelecermos aqui um ambiente
de construção a fim de democratizar
conhecimento que transforma.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

É difícil

Primeiramente quero pedir desculpas por ficar tanto tempo sem escrever, percebo hoje quanto é difícil permanecer defendendo uma idéia, lutando por uma causa. Verdade é que as circunstâncias limitam assustadoramente as possibilidades de permanência em um bom ideal. Sempre achei que fazer as coisas certas seria mais fácil quando na verdade não são. Incrível como as coisas corroboram para o mal, como pode ser tão difícil!
Não consigo dar qualidade de tempo para as pessoas não consigo me dedicar, encontro limitações minhas que atrapalham os meus relacionamentos de forma justa com qualidade.
Com muita dor tenho deixado pessoas para traz. E isso revolta muito, não foi o que escolhi, não foi o que programei, não foi isso que ensinei.

"Ame as pessoas e use as coisas" nunca ame as coisas e use as pessoas.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Inauguramos o restaurante em um belo dia de sol, várias pessoas da família vieram ajudar e assim que abrimos chegaram os convidados. No decorrer do dia o movimento foi aumentando, até o restaurante ficar lotado. É foi um ótimo dia.

Enfim, motivos e mais motivos para comemorar, todos felizes, e eu com o copo na mão planejando enquanto a noite caia qual seria a dose daquele dia.

Depois que conheci a bebida, o cigarro e as drogas tudo virou motivo para usar, se tudo desse certo eu usava, mas se desse errado eu usava também.

Então aquele dia foi um dia que deu certo. Sai e como já era de se esperar usei muita cocaína, fiquei nessa de usar a drogas por um tempo, até o dia em que ela começou a me usar, ai sim, começaram a aparecer os problemas. Essa etapa é marcada por dois acontecimentos, primeiramente me enturmei com algumas pessoas que já usavam antes de mim, e depois de várias discussões sai do restaurante e fiquei desempregado

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Agora eu sei

Vou tentar colocar neste texto algumas realidades que são desconhecidas de muitos, pelo excesso de informação deturpada e manipulada, segundo o umbigo de uma série de pessoas hipócritas, que usam de todo seu conhecimento de toda sua sabedoria, para um fim singular, e eu até entendo que isto seja conveniente, mas o que fica muito difícil de entender é como as mesmas pessoas conseguem ignorar todo o plural em sua volta. Sendo assim se tornando conivente com um sistema que nos ensina e nos conduz de forma persuasiva, dizendo o que vestir, o que comer, o que devemos ser, onde devemos chegar, e afirmam que esta são as coisas que devemos priorizar, criando uma série de sofismas, tão bem feitos a ponto de em média 80% das pessoas que eu convivo não saberem o significado desta palavra, essa porcentagem nem sabe que foram e que continuam sendo enganadas, por este mesmo sistema que se mostrou extremista na questão hospitalidade, preparando com todo o empenho o caminho para que eu e os demais companheiros chegássemos aqui com a certeza em nossas mentes que somos os únicos responsáveis por isso, e que não há mais o que fazer. E isso acaba sendo uma meia verdade, mas só para os que se acomodarem diante de toda essa situação, porque eu tenho certeza de que todos têm dentro de si a força para mudar a situação em que se encontram, quando todos pararem de discutir os problemas, e resolverem mudar as suas posturas diante dos mesmos, fazendo coisas do tipo: Se preparando fisicamente, adquirindo conhecimento e trazendo a memória que problemas existem para serem resolvidos, porque se eu simplesmente falar que deixaram a desejar no sistema educacional, ou ficar fazendo criticas ao sistema de governo que não proporcionam emprego, ou ficar me lamentando pelo fato de o salário mínimo só da para comprar um pouco mais do que uma cesta básica, se eu buscasse argumento dentro desse sistema para eu continuar a cometer crimes, eu encontraria motivo, razão e circunstância, no entanto eu seria pior do que todas essas pessoas que controlam essa lama, e no mais voltaria a ser contribuinte das pilantragens, se eu não fizer tudo o que posso para transformar em atitudes as minhas palavras, eu vou ser mais um que conhece uma meia dúzia de palavras diferentes e que está buscando um lugar ao sol, ou seja não vai adiantar nada, e eu vou me tornar tão hipócrita quanto os caras que hoje eu critico. A minha e a sua postura devem ser de pessoas que estão dispostas a lutar de forma limpa para conseguir melhorar o lugar que vive.
Agora você deve está se perguntando que credibilidade um preso negro e de pouca instrução tem para chamar pessoas que nunca infringiram a lei de hipócritas e pilantras?
Deixe eu te explicar uma coisa, você pode até questionar a minha credibilidade, mas como dizem contra fatos não há argumentos, fato é que pessoas de bem como você meu caro leitor elegeram deputados, vereadores, governadores, e até presidentes que eu não preciso citar nomes e nem convém, mas eu posso falar das atitudes, para que assim você reveja os seus conceitos quanto à credibilidade, muito desses mataram, roubaram e destruíram e alguns vieram até a conhecer as carceragens Brasileiras, ou seja, as pessoas que apareceram rindo no seu televisor e falaram uma série de coisas que na verdade você nem sabia do que se tratava e não procurou saber, tão somente depositou sua credibilidade em um deles porque eles pareciam legais ou porque alguém lhe falou que fulano de tal é um bom candidato, e pelo simples fato de não me conhecer de lugar nenhum você ignora todos os erros ai de fora, e critica o preso porque a situação em que eu me encontro é visível, mas não é irreversível, e diferente de todos aqueles discursos o meu texto é verdadeiro e todas as coisas escritas aqui são factuais. E devo a oportunidade de demonstrar a minha mudança, a pessoas que contra tudo que você pensa sobre presos, lembraram que preso é um ser humano que independente de vitima ou agressor merece a tentativa de recuperação. E essas pessoas em meio a vitórias e derrotas continuam buscando fazer a parte delas e a muito tempo deixaram de falar para fazer, e quer você acredite ou não tem dado certo.
"Porque criticar é fácil,
Ajudar é difícil.
E abandonar é mole!!!"

Muito obrigado a todos do Colégio Estadual Rubem Braga.
IDEALIZADORES:
Renan do Carmo Silva
William Alves de C. Ferreira

Desculpas

Gente eu quero me desculpar.
Durante esses últimos dias tem sido um desafio muito grande escrever no blog.
Mas quero aproveitar esse retorno para postar a introdução de um livro que estou escrevendo, na verdade essa parte que vou postar foi escrita dentro do presídio Hélio Gomes e quem escreveu foi meu amigo Renan, numa das vezes que resolvemos colocar no papel tudo aquilo que estávamos pensando e enquanto conversávamos o Renan ia escrevendo tudo, depois editamos juntos. E ficou esse texto que hoje após a morte dele vai virar a introdução de um livro.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Continuação

O dia da morte do meu tio.
Foi o pior dia da minha vida!
Uma sensação de impotência enorme, um vazio, um ardor no peito...
E logo que passou aquela extensa noite, tive que engolir toda dor para resolver os assuntos de enterro e toda a parte burocrática que existe quando uma pessoa morre. Com o objetivo de poupar a minha tia assumi tudo o que podia. Colocar o restaurante para funcionar passou a ser a única coisa que eu tinha para fazer, mas quando aquela agitação em busca de finalizar a obra acabava toda tarde no final do dia e eu ia para casa, e olhava para as paredes e a única coisa que eu conseguia fazer ao tentar abrir a boca era chorar, isso se repetiu por vários dias e o fato de ter ficado sozinho naquele lugar piorou toda a situação. A minha tia e todas as pessoas que eu conhecia voltaram para o rio por não agüentarem ficar ali naquele primeiro momento, mas eu obcecado em terminar aquela obra e iniciar aquilo que era o sonho do meu tio, não me permiti pausa, então fiquei lá isolado por muitos dias, até que comecei a marcar e sair com meu primo e também sozinho, foi nesse momento que eu conheci o cigarro, a bebida, e a cocaína e foi ela que me deu junto com o álcool e o cigarro a disposição para continuar rindo, ela naquele momento me devolveu a alegria que eu tinha perdido.
Passei a trabalhar a semana toda pensando no final de semana, para sair e usar cocaína, mas esse ritmo logo mudou porque eles voltaram para inaugurar o restaurante...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Chegada em Papucaia

E ai gente
Vou continuar hoje a escrever e em breve vou poder escrever todos os dias ok.

Quando eu fui preso tinha exatamente 23 anos e um mês de vida.
Dia 28/04/2006 foi o dia da minha prisão.
Dia que as minhas cadeias ficaram visíveis. Vou contar como tudo isso começou.
No ano de 2004 quando eu ainda tinha 21 anos fui convidado por um tio de consideração para visitar construção do seu restaurante em Papucaia, Cachoeiras de Macacu, fiquei encantado com o lugar, e passado alguns dias ele me fez uma proposta de trabalho que aceitei, retornei a minha casa no Rio a onde eu morava com a minha esposa, meus três filhos e minha sogra. Estava com a minha esposa desde os 16 anos e o meu casamento passava por uma turbulência.
Amei a idéia de morar em outra cidade, e sem problemas, pois tinha a desculpa de ser um bom trabalho, então retornei para começar a trabalhar em agosto quando o restaurante já era para estar pronto, permaneci ali por vários dias sem ir ao Rio fiquei totalmente envolvido com o trabalho tentando organizar o máximo possível para a obra terminar. Com menos de um mês voltei em casa passei um final de semana e retornei ao trabalho, e logo após o meu casamento terminou, mas eu não dei à mínima.
E aquela empolgação se estendeu até o dia 19/11/06 as vésperas da inauguração, aprontamos tudo. Lembro que até a grama que havia na frente do restaurante fomos nós que colocamos no final da tarde, ficou lindo!
Nesse momento a cozinheira já preparava o almoço do grande dia seguinte, que seria o êxtase do nosso trabalho. Foi quando por volta das 22:00 hs; tudo estando no seu devido lugar meu primo de consideração e eu fomos com o carro do meu tio levar a cozinheira em casa, ao retornar fomos interceptados pela policia e por não ter carteira fomos encaminhados para a delegacia.
Eu não entrei na delegacia, era meu primo que estava dirigindo.
Mas como queria estar dirigindo, só assim não seria eu a chamar o meu tio para resolver o novo problema.
Fui correndo chamar meu tio e ele veio comigo até a delegacia, entrou nela e logo o policial perguntou se estava tudo bem e ele prontamente respondeu que não e a partir disso não parou de falar e questionar aquela situação nos comparando com os filhos dos fazendeiros da cidade que com mais ou menos 10 anos desfilavam com carros e motos por todo lugar, e indagava qual seria o critério quando de repente olhou para traz a onde estava eu e meu primo e caiu de uma vez como uma tábua.
Corri o peguei no colo junto com meu primo, fomos com o carro da polícia para o posto mais perto, mas lá não tinha aquela bendita maquina que reanimar através de choque e ele faleceu.
E naquele momento de dor comecei a pensar, porque fui chamar, porque não o poupei se sabia que ele tinha problemas de coração e tomava remédio, porque, porque e por quê?
E todos esses porquês me consumiram e com os dias me tornaram amargo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Despedida

Quando eu estava sendo transferido naquela manhã, tive um sentimento inexplicável comparado há uma perda muito grande. Fiquei meio confuso, preocupado com os companheiros que tinham ficado e comigo que não sabia para onde estava indo. Quando sai abracei um a um quase chorei, sofri. Que loucura!
O carro parecia uma Fiorino velha enferrujada e cheia de buraquinhos. Lembro bem dos buraquinhos. Tinha quatro pessoas dentro daquele carro, e cada um procurava um buraquinho para ver a rua, lembrava aqueles insetos que desesperadamente procuram luz, supondo ser uma saída. Assim a gente disputava o melhor espaço ou o melhor buraco. E numa olhada dessas, vi o Restaurante do meu tio, na entrada da cidade de Papucaia a onde tudo começou, e repentinamente toda a historia que eu vivi naquele lugar saltou a minha boca, eu agora não entendo o porquê, mas queria mostrar para o meu companheiro de viagem o que estava vendo, e compartilhar tudo que eu vivi ali. Sem olhar para o lado de uma forma compulsiva falei meia dúzia de palavras até que olhei. E ele estava vomitando tudo o que podia.
Parei de falar e no decorrer da viagem achei melhor nem comentar, ele não acreditaria. É pensando bem agora ele não acreditaria mais amanhã eu vou contar essa história.

Arquivo do blog